
Grupos que representam vítimas de abusos sexuais supostamente cometidos por membros da Igreja Católica afirmam que o papa Bento 16 não fez mais para combater esse tipo de crime porque não quis. O pontífice anunciou a sua renúncia nesta segunda-feira (11) e ficará no cargo até 28 de fevereiro.
PEDOFILIA NA IGREJA CATÓLICA As denúncias mais graves de pedofilia na igreja atingiram seu auge em 2009 e 2010. Segundo elas, dioceses locais e o próprio Vaticano foram cúmplices no acobertamento de inúmeros casos de pedofilia, hesitando em punir padres pedófilos e às vezes mudando-os para postos nos quais continuaram a praticar abusos.
Enquanto algumas autoridades católicas inicialmente qualificaram as acusações de serem parte de uma campanha contra a Igreja, o papa aceitou a responsabilidade pelos episódios, falando em "pecados dentro da Igreja".
Bento 16 encontrou vítimas e emitiu pedidos de desculpas inéditos. Enfatizou que os bispos notifiquem os casos de abusos e introduziu novas regras para apressar a apuração de denúncias de pedofilia.
Para os simpatizantes de Bento 16, ele foi o papa que mais agiu contra os abusos.
Críticos, porém, dizem que foi necessário um bom tempo para que o alemão compreendesse a seriedade dos crimes que lhe eram notificados e ele permitiu que os abusos ficassem sem resposta por anos para evitar arranhar a imagem da Igreja.
Nos oito anos em que esteve à frente da Igreja Católica, vieram à tona diversas acusações de abusos que, durante décadas, foram acobertados pela Igreja. Os escândalos atingiram países como Irlanda, Alemanha, Estados Unidos e Bélgica.
"Poder ele tinha. É um dos homens mais poderosos do mundo e certamente o mais rico. Mas ele não fez muito além de se desculpar e fazer promessas vazias", afirmou Barbara Dorris, uma das diretoras do grupo norte-americano Snap (Survivors Network of those Abused by Priests --do inglês, "rede de sobreviventes dos abusados por padres").
"Ele poderia ter afastado clérigos americanos que comprovadamente eram abusadores, mas não fez. Por que não?", questiona.
O perfil conservador de Bento 16 foi o principal entrave para se avançar no combate aos abusos, segundo a inglesa Anne Lawrence, que coordena a entidade britânica Macsas (Ministry and Clergy Sexual Abuse Survivors) --na tradução livre "sobreviventes de abuso sexual pelo clero".
"Não há ninguém mais à direita do que ele. Por anos, antes de se tornar papa, ele teve acesso a documentos com relatos de abuso e nada fez. Quando virou papa, não houve nada de concreto. É lamentável", critica.
Para Anne Lawrence, a renúncia do papa não causa apenas surpresa ao mundo, mas revela uma profunda divisão na Igreja Católica.













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